Sucesso
O que é o sucesso senão o mágico remédio, prescrito pela suposição, para curar todas as nossas dores? A medalha na parede, o metal no anelar da mão esquerda, passos de criança sobre o piso ou até mesmo o chacoalhar do molho de chaves. Quando listamos assim parece que o sucesso tem cadência, uma ordem certa e predeterminada para acontecer. Inquieto-me. O engessado sufoca. Se pudesse, usaria o martelo da incerteza para desfazer qualquer peripécia a intentar solidificar o futuro. Tudo, sob os pés da percepção, transforma-se quando trocamos de assento na mesa do banquete da vida. Pela feliz surpresa da mutabilidade de tudo, deparo-me com o novo conforme o mundo passa pela janela do ônibus. No borrão das árvores que balancam com o vento eu me lembro dos versos de Pessoa. Meus dedos apenas mais lentos que a ideia, caçam letra a letra pelo teclado, como uma artesã que tece os anos em cada fio e ponto. Teço os segundos do trajeto, teço as ideias de um estranho em um outro tempo, teço minhas