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Sucesso

 O que é o sucesso senão o mágico remédio, prescrito pela suposição, para curar todas as nossas dores? A medalha na parede, o metal no anelar da mão esquerda, passos de criança sobre o piso ou até mesmo o chacoalhar do molho de chaves. Quando listamos assim parece que o sucesso tem cadência, uma ordem certa e predeterminada para acontecer.  Inquieto-me. O engessado sufoca. Se pudesse, usaria o martelo da incerteza para desfazer qualquer peripécia a intentar solidificar o futuro. Tudo, sob os pés da percepção, transforma-se quando trocamos de assento na mesa do banquete da vida. Pela feliz surpresa da mutabilidade de tudo, deparo-me  com o novo conforme o mundo passa pela janela do ônibus. No borrão das árvores que balancam com o vento eu me lembro dos versos de Pessoa. Meus dedos apenas mais lentos que a ideia, caçam letra a letra pelo teclado, como uma artesã que tece os anos em cada fio e ponto. Teço os segundos do trajeto, teço as ideias de um estranho em um outro tempo, teço minhas

The Goddess of Poison

"Chemistry" - I said, there was something dangerously poetic about learning hundreds of thousands of ways to poison just to understand that the deadliest was one that no man could control. Whispered in every motion, she wrote books in her own glory Love, the goddess of poison.

Coragem

     Coragem,      Te busco quando o frio da manhã me arrepia a pele e o aconchego quer me manter inerte. Te busco enquanto me ocupo com o café, consumado pela urgência das primeiras horas da manhã - é de se pensar também que é necessário se ter coragem ao escolher o que se quer consumir; há sempre de se bancar uma decisão.      Te busco quando as solas do sapato tocam o concreto da calçada, antes de passar pelo trecho escorregadio ainda coberto do sereno da madrugada. Te busco ao olhar para os dois lados e enfim ousar cruzar a rua.      Te busco antes de proferir um cumprimento, oferecer um sorriso e entrar no auditório para escolher um lugar para chamar de meu por algumas breves horas. “Meu”, a palavra ressoa. Há de se ter ousadia para pensar que qualquer coisa nos pertence, mesmo que por pouco.      Coragem, preciso-te para lembrar sempre que o amor existe e que as pessoas valem a pena. Te busco todos os dias porque há de se desafiar o silêncio e a distância. Existe necessidade de s

8 de março

       Os dias passam velozes e me perco nas folhas do calendário. De repente já se foi o Carnaval e o novo ano já não é tão mais novo assim. Os jornais tentam nos roubar o pouco que nos resta para além da rotina e do cansaço: a esperança. Em dias tão absurdos, sentirmo-nos um pouco loucos parece ser o mais são. Por essa razão, não resisto a aparente loucura de me ater às coisas simples apesar do mundo. Eu, você e esse sentimento enorme de gratidão.      Vasculho diários, textos compartilhados nesse blog, posts antigos do Facebook e antologias na estante. Nada parece certo ou suficiente e talvez, seja para o melhor. Se não fosse a inadequação, provavelmente deixaria mais uma vez as palavras esvanecerem antes de tentar passá-las a um papel.       Eu e você, te olho nos olhos e você me encara tão profundo que dá pra ver a alma. Nenhum poema, verso ou citação jamais seria capaz de fazer justiça as conversas silenciosas de afeto que compartilhamos.      Compreensão, segurança e carinho. Ob

A lição do pavão

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     Existe uma lição na vida que somente os pavões - com toda sua imponência - são capazes de ilustrar com maestria.       Há quem goste dos pavões e há quem os desgoste. "Lindos" ou "exagerados", "graciosos" ou "ridículos". Os pavões certamente dividem opiniões.      Contudo, o animal, se entende ou não (não é benéfico afirmar que sim nem que não, nesse caso incerto a dúvida é mais completa que a afirmação), não se importa com os elogios ou críticas que recebe.       Ele, movido por sua essência de vida, continua a caminhar da forma mais majestosa que é capaz. Consciente ou não, magnânimo ou ridículo, o pavão precisa continuar a existir e se mover, e a bruta realidade é que ninguém pode fazer isso por ele, senão ele mesmo. Ele é mais do que os adjetivos que os que o observam lhe atribuem. Ele é verbo e o verbo não pede licença e nem desculpas. Ele vem, toma e ocupa seu espaço, porque ele precisa e pode.      Devemos aprender essa lição com o pa

Dócil garota e feroz mulher

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     Mesmo com o passar dos anos existe uma espécie de inquietação que ainda me persegue. Nos meus passos ora incertos, ora mais firmes do que a trajetória de uma flecha; no silêncio da pacificação e na propagação das palavras consumindo a isenção; em cada pensamento inseguro e nas certezas infladas:  transito na linha tênue entre a brandura de uma dócil garota e a ferocidade de uma forte mulher.      A vida me fez ora poça e ora enxurrada e ser ambos é talvez mais consumidor que ser nenhum. A placidez da lagoa faz ebulir no íntimo a necessidade de fluir impiedosamente e o alvoroço da torrente faz-me carecer o repouso da suspenção.      Seria mentira se dissesse que jamais  quis ser mulher forte e esquecer-me de minha face de menina, mas essa existência e as forças maiores não se importam com o que queremos, felizmente. No fim, ser somente mulher e unicamente forte é um maniqueísmo tão improdutivo quanto a ideia de bem e mal absolutos. Todas as questões do coração possuem mais nuances

Roubem-me!

   Na vida já me roubaram muitas coisas. Tantas vezes tomaram minha alegria com ameaças que me tinham sob a mira. Diversos momentos raptaram minhas certezas com desagradáveis surpresas. Ah, foram inúmeros os golpes e assaltos que me fizeram, mas agora parece que todos os sequestradores do mundo já se foram para um lugar em que meus passos não conseguem me levar. Ladrões desse mundo, onde estão? Pois nenhum de vós há intentado roubar-me minha tristeza. Já me surrupiaram tantas vezes, por que não mais essa? Poderiam vendê-la a outrem pelo preço de um terço do que ela me custou, poderiam descartá-la na próxima esquina, não me importo apenas roubem-me desta dor incessante.    Noites de rolar no colchão tornaram-se precursoras de repuxos na face, os sonhos mais usurpadores hoje me preenchem de alegria. Ah, tira-me um centavo de minha dor e eu te amarei milhares de milhões. Em um canto ou esquina, despoje-me de mim mesmo e, removendo-me de minhas vestes, depenando minhas posses, poderei ser

Às vezes...

 Às vezes eu me esqueço que a vida é muito curta para nos desgastarmos com contentamentos em vez de corrermos atrás dos nossos sonhos grandes e difíceis. Às vezes eu me esqueço que os dias bons e os dias difíceis vem apenas para ir. Às vezes... às vezes eu me esqueço que cada momento é um presente e a vida por si só já é uma dádiva. Às vezes, só às vezes eu cruzo com a novidade e, por um instante, existe encanto, fascínio e magia. Às vezes, mais frequentemente do que eu gostaria de admitir, eu me pego comparando o contínuo com o esporádico, me flagro melancólica desejando o raro e desprezando sua posterior forma de cotidiano. Ah, insaciável às vezes... às vezes sempre, você vem como uma promessa suspensa no tempo. Você é um rótulo temporário para um hábito em consolidação. Querido às vezes, você sempre foi o único a me prender a si por tanto.

Too much. Too crazy.

     Bustling noises filled my world as my vision faded out. Alcohol and hundreds of bites of bees took away my ability to feel my body. Guess unscrupulously drinking beer was not an excellent idea. Once you are lying half-conscious, weird things start to happen. With the conviction that a drunk middle-aged man just blessed with tons of bee’s bites can have, I swear that weird noises turned into inhuman voices corralling me. I swear the soft wind had a cold solid voice.      This collection of nonsense is all that I remember before waking up feeling like a rock had hit my head, then, being pushed through maze corridors, just to have my senses flooded with cloying sweet fragrance, yellow light, and clatter as I enter a different place. I've felt overwhelmed previously, but nothing prepared me for that. It was like going out holding an umbrella during a Tsunami. It was … too much. I am sure it is not normal to feel like a balloon about to explode.      Gradually my eyes started witne

Um duro golpe da realidade

     Estivera calma desde que acordara. O som do vizinho saindo pela manhã para trabalhar a despertara e, se isso não o tivesse feito, o volume alto da caixa de som do carro que passou vendendo uvas o teria feito uma hora e meia depois. Considerava-se sortuda, sua casa ficava em uma rua sem saída, o que a poupava de passar noites em claro pelos sons da movimentação noturna que permeava as outras ruas.      Levantou-se, fez café, os olhos cansados, mas a mente desperta de alguma forma. Em sequência, sentou-se em sua poltrona e abstraiu-se por alguns minutos, permitindo-se sentir a forma que seu corpo pequeno se encaixava entre as almofadas, no assento e no encosto. Seus pés não tocavam o chão, nunca o fizeram e não seria agora que o fariam.      Quando era adolescente sua mãe chegara a suspeitar que tinha nanismo, um ideal tolo e estandardizado do mundo da beleza: uma pessoa não podia ser naturalmente pequena, pois isto era anormal. Uma dúvida tão tola, mas na época se sentiu muito abal

Sorrateiro

     Antônio Sacras Santos andava atormentado pelo piso de sua propriedade. De lá pra cá, de cá para lá e vários tiques nervosos. Ele sofria daquilo contra o que nada pode a razão, o coração. Antônio estava em um casamento feliz com seu amor, Amália Fernanda Silveira - que recentemente tornara-se Amália Fernanda Silveira Santos. Contudo, nem só das coisas concretas ocupa-se a mente e essa era a sua fonte de tormento.       Antônio não era possessivo, dificilmente poderia ser categorizado como ciumento, mas quando se experimenta a paixão em tão grande intensidade não existem garantias. Diante da possibilidade de não ser o objeto de afeição de Amália,  Antônio estremecia de nervoso e, transtornado, tornava-se uma pessoa irreconhecível. Recusara todos os convites para programas restritos a cavalheiros com finalidade de jamais deixar seu grande amor privado de sua companhia. Em todos os bailes a trazia bem próximo de si, para externar seu matrimônio para além das alianças que repousavam em

O porto inalcançável

A vida é uma jangada, nós a velejar. O amanhã é um porto, onde nunca vamos chegar. Pois antes que se diga: estamos prestes a alcançar, ele prontamente acabou de se mudar.

Life goal

  So many possibilities  of who I can become. No fate, only choices.  Oh, I wonder which of the multiple future versions of myself is the best version of me in this ephemeral life.  Power, wealth, prestige, passion, love they all boil inside fighting one against another to take control. Oh, I wish I knew how to spy over the curtain of time  so that I could build the most glamorous museum of novelties. I am living the blues of never-ending questions and doubts that can steal my sleep if I am careless.  Oh, I want to be my own Mona Lisa, I crave to make me my own masterpiece.  I am trying to discover how to be bigger than life.

Ode to breath

Wise man said “We tend to love things we lose”. Maybe this is the reason I’m grieving over the goodbyes I did not choose. Easy come, easy go this is what life is all about. In one instant we are here, in the other we are out. A short time-lapse is our only gift and sin. So I’m appreciating my lungs, their mechanical ability to evolve air and keep me on this magical act that is breathing.

Desejos

  Desejos, ó desejos, estes que não se podem contar, tão numerosos quanto a areia do mar. Tão exigentes,  impossíveis de saciar. Filhos dos jovens, filhos do mar que por um olhar já ousam se perpetuar; Desejos, grandes e enormes desejos,  meus imensuráveis almejos.

Ao amado

Prezado, querido e amado não te vejo com meus olhos, mas meu coração te almeja. Não te toco com meus braços, mas a saudade nem pestaneja, essa que se instalou em meu ser. No oculto te escondes e no imaginário habitas,  mas como pode se de amor te adoeces? como coração que não existe, pela paixão tomado é? É mistério, é mistério, se apressam em dizer, mas é de mistério em mistério que se aprende a viver? Se a vida é uma jangada, fadada ao naufrágio, como pode o meu coração deixar de ser tão frágil? Nem tudo é verdade, nem tudo é o que se vê, mas como rosa em outono viestes a aparecer? Se do impossível te fazes passível,  então o impossível mais que possível é. Se do amor te fazes incrível, indestrutível é.

Ano novo

Existe uma luz que aflora em meu peito,  alegria profunda fonte de deleite com imediato efeito. É o meu breve momento de euforia e há tanta força neste sentir que eu poderia tornar-me  violentamente mais brilhante  do que os fogos a colorirem o nanquim perfurado e ninguém poderia me parar, enfim o meu pranto está encerrado.

Quarenta e quatro vezes

     Eu vi campos verdes onde o vento beijava a grama e acariciava as árvores. Eu vi as árvores apontadas para o céu fazendo sombra aos homens e abrigando ninhos e colmeias. Eu vi o céu ser pintado com o azul das praias e então escurecido com o azul dos céus de mil noites, repleto de porções de tinta branca e então infestado por milhões e milhões de vagalumes. Eu vi as abelhas irem e virem de flor em flor sempre voltando para suas colmeias e os passarinhos voarem para longe e voltarem para seus ninhos. Todas essas coisas belas me foram cruéis ao coração, todas me trouxeram a lembrança de você. Elas me roubaram um espaço no pulmão, fizeram com que eu gastasse as areias do tempo imaginando se um dia você voltaria como as abelhas e passarinhos. Elas me permitiram sonhar que com doçura igual a do vento você me acalentaria quando retornasse. Todas essas coisas me fizeram pensar como seria maravilhoso mais uma vez ver o mundo pelos seus olhos, mas você se foi.       Você se foi e agora assis

Aniversários dos amigos

O amor e o carinho tiveram de encontrar formas de se expressar à distância. Para os céticos na transmissão de afeto pela rede o isolamento tornou-se sinônimo de solidão, mas como todo otimista eu tenho que continuar a buscar caminhos para demonstrar calor à distância, abraçar com palavras e beijar sem contato.

Um guia de navegação para a vida

  De tudo o que me dói guardo recordações como um guia de navegação da vida. Hoje foi um dia cinza e ontem choveu bastante, mas a semana passada foi ensolarada e fresca e alegre como a primavera.  Alguns dias nos atropelam, e com eles aprendemos a atravessar na faixa de pedestres, olhar dos dois lados antes de cruzar uma avenida e a esperar até que seja a hora oportuna para nos arriscarmos no asfalto.  É por causa desses dias tempestuosos que sabemos, bem lá no fundo, que existem abismos dos quais não devemos nem nos aproximar e outros que não há maneira de evitar. Também é por causa deles que nos enxergamos despidos de pompa e cobertos de nossa própria natureza.  E como é difícil encarar-se quando o que se vê não é bonito nem ideal, mas talvez nessa árdua empreitada residam os significados de maturidade e franqueza.  É uma das grandes virtudes ver a si mesmo desnudo de tudo o que externamos e, com coragem, lidar com a crueza e a imperfeição, porque aqui dentro somos todos muito mais b