Sob a tela

 Pincel língua de gato com cerdas naturais. “Tinta óleo é melhor para a sofisticação” alguém me disse. Me deparo com a minha própria ignorância, a autoimagem de minha artista é a de alguém que tateia no escuro. Se pensar com carinho, eu sei bem pouco sobre pintura - assim como tudo que aprendi a gostar. Há tanto para saber e tão pouco tempo para começar a saber. A única coisa que entendo com maestria é o controle (e se pudera, queria ter controle também sobre minha própria ignorância).

Cada pincelada na tela é um convite para mais, mas no plano maior há a necessidade de cessá-la. Pincelar é um convite sem fim, mas a beleza reside no controle. 

Entre ideia e outra, as cores se misturam em minha vista e a mente vaga até você. Seu rosto, como o rosto de um santo que surge quando se fecha os olhos para rezar - é nítida e difusa, como são todas as coisas reconstruídas por memória. 

As pequenas coisas e o silêncio me levam à ideia de você. Penso em nós e o imagético metafórico que se forma vem como o ato de pintar.

Eu acho que gosto tanto do que há, porque sinto que posso escolher como seremos. Você é uma ciência que transcende o saber que me é palpável, mas ainda assim há para mim o verbo ‘Poder’. Com o pincel nas mãos, posso escolher o traço, se escrevo ou se preencho. A ideia de você - e consequentemente do eu e você, está posta à frente no cavalete. Gosto da sensação do que é novo. O querer é pela possibilidade (e provável que acima de tudo, pelo controle).

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