Coragem

    Coragem,

    Te busco quando o frio da manhã me arrepia a pele e o aconchego quer me manter inerte. Te busco enquanto me ocupo com o café, consumado pela urgência das primeiras horas da manhã - é de se pensar também que é necessário se ter coragem ao escolher o que se quer consumir; há sempre de se bancar uma decisão.

    Te busco quando as solas do sapato tocam o concreto da calçada, antes de passar pelo trecho escorregadio ainda coberto do sereno da madrugada. Te busco ao olhar para os dois lados e enfim ousar cruzar a rua.

    Te busco antes de proferir um cumprimento, oferecer um sorriso e entrar no auditório para escolher um lugar para chamar de meu por algumas breves horas. “Meu”, a palavra ressoa. Há de se ter ousadia para pensar que qualquer coisa nos pertence, mesmo que por pouco.

    Coragem, preciso-te para lembrar sempre que o amor existe e que as pessoas valem a pena. Te busco todos os dias porque há de se desafiar o silêncio e a distância. Existe necessidade de se abrir os braços para abraçar, e sorrir para aquecer o coração.

    Coragem, te busco - com força e bem fundo, quando vejo o lance de escadas ao chegar em casa à noite e toda vez quando na nova partitura de estudo surgem as semibreves e mínimas que sempre me roubam o fôlego.

    Coragem, te busco quando o coração - de emoção ou saudade, parece esquecer de como se bate, e as pernas parecem não saber mais caminhar, e as mãos se tornam um acessório incômodo.

    Coragem, te busco e, no exercício de te buscar, te encontro.

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