Sucesso

 O que é o sucesso senão o mágico remédio, prescrito pela suposição, para curar todas as nossas dores?

A medalha na parede, o metal no anelar da mão esquerda, passos de criança sobre o piso ou até mesmo o chacoalhar do molho de chaves. Quando listamos assim parece que o sucesso tem cadência, uma ordem certa e predeterminada para acontecer. 

Inquieto-me. O engessado sufoca. Se pudesse, usaria o martelo da incerteza para desfazer qualquer peripécia a intentar solidificar o futuro. Tudo, sob os pés da percepção, transforma-se quando trocamos de assento na mesa do banquete da vida.

Pela feliz surpresa da mutabilidade de tudo, deparo-me  com o novo conforme o mundo passa pela janela do ônibus. No borrão das árvores que balancam com o vento eu me lembro dos versos de Pessoa. Meus dedos apenas mais lentos que a ideia, caçam letra a letra pelo teclado, como uma artesã que tece os anos em cada fio e ponto. Teço os segundos do trajeto, teço as ideias de um estranho em um outro tempo, teço minhas próprias ideias e o vento lá fora a soprar as folhas.

"As vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nacido",  transcrevo para o meu avô. Tenho a ousadia de com tanta leveza compartilhar a frase que me manteve viva durante as noites mais difíceis. Porque é difícil viver pelas grandes coisas, mas as pequenas são as razões mais fortes, possuem as raízes mais profundas no coração pelo simples fato de serem as mais antigas na fundação que me sustenta.

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