Quarenta e quatro vezes

    Eu vi campos verdes onde o vento beijava a grama e acariciava as árvores. Eu vi as árvores apontadas para o céu fazendo sombra aos homens e abrigando ninhos e colmeias. Eu vi o céu ser pintado com o azul das praias e então escurecido com o azul dos céus de mil noites, repleto de porções de tinta branca e então infestado por milhões e milhões de vagalumes. Eu vi as abelhas irem e virem de flor em flor sempre voltando para suas colmeias e os passarinhos voarem para longe e voltarem para seus ninhos. Todas essas coisas belas me foram cruéis ao coração, todas me trouxeram a lembrança de você. Elas me roubaram um espaço no pulmão, fizeram com que eu gastasse as areias do tempo imaginando se um dia você voltaria como as abelhas e passarinhos. Elas me permitiram sonhar que com doçura igual a do vento você me acalentaria quando retornasse. Todas essas coisas me fizeram pensar como seria maravilhoso mais uma vez ver o mundo pelos seus olhos, mas você se foi. 

    Você se foi e agora assisto o sol se por uma, duas, três, quarenta e quatro vezes no mesmo dia, sem ter forças para me levantar arrancar os baobás filhotes em sua juventude. Onde estás minha criança? Você se foi como as flores que amanhecem na relva e pela noite desvanecem, mas eu fiquei aqui e tornei-me poeta para não desaprender como amar. Agora que sou gente grande é muito difícil continuar a me preocupar com o porque das flores terem espinhos, pois constantemente tenho que procurar caminhos para fora da terra das lágrimas. 

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