A razão pela qual escrevo

                                                                                                                                                               Picture by: @rawpixel-com


    Há alguns anos fui a uma exposição de fotografia. Eu nunca tinha ido à uma, confesso que de início não tinha muitas expectativas. Cheguei a pensar: quadros na parede, estáticos, ignorados, impotentes, nada demais. Porém, naquela tarde eu precisava matar o tempo e ficar tão quieta quanto os retratos pendurados, mesmo que por alguns minutos.

    Havia um e outro quadro interessante, mas de novo,  nada especial. Esse pensamento me acompanhou até que cheguei ao meio da maior parede da sala da exposição. Havia um quadro - tão ordinário quanto todos os outros, mas que, por alguma razão, me fez sentir diferente. Ele brincava com contrastes: vermelho e verde; homem e natureza. Algo sobre a distancia entre uma coisa e outra me prendeu a atenção. 

    Quando me dei conta, estava capturada como em um momento em que pensamos "Eureka". Senti  como se tivesse me deparado com uma interpretação de todas as fotografias que eu já quisera tirar e jamais conseguira. Uma resposta para uma pergunta que eu nem sabia ter feito, uma coisa etérea que podemos contemplar mas não necessariamente capturar ou transcrever. Passei um bom tempo contemplando-o e, quando saí, segui pensando nele. Algo sobre ele parecia tão... certo. Pela primeira vez eu sabia o significado de fotografia além daquela dos porta-retratos de família. Cismei e quis reproduzi-la.

    Passei os últimos anos tirando dezenas de fotografias tentando fazer algo parecido, mas de verdade nunca consegui igual. Algumas delas foram as fotos mais lindas que já tirei na vida e outras nem tanto... Eu nunca consegui capturar nada que transmitisse sensação idêntica ao quadro que nunca retornei a ver. Gosto de pensar que a verdadeira fascinação não estava no quadro, mas na mágica do que eu senti ao ver o quadro. Se voltasse a vê-lo, talvez não fosse tão especial. Cada dia mais acredito que as coisas também são o momento em que são, o instante que nos sucedem. 

    Acho que no fundo é por isso que eu escrevo, esperando que alguém algum dia leia um texto, um poema e fique tão encucado que passe anos da sua vida enchendo páginas e páginas com suas próprias palavras e versos.

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