Eduardo e Mônica, nem tão opostos assim.



    Eduardo sempre fora um jovem sonhador, apaixonado pela vida e por Maria, sua primeira e única paixão, a qual ignorou todas suas singelas investidas.

    Ele jamais havia se considerado alguém tímido ou com dificuldades de se comunicar, na verdade, sempre fora bem equilibrado neste aspecto, mas sua dificuldade veio a se manifestar na situação mais inoportuna possível, no momento em que suas habilidades na comunicação seriam extremamente cruciais.

    Infinitamente triste e decepcionado, Eduardo não conseguia encontrar formas de superar suas barreiras psicológicas para finalmente conquistar seu grande amor.

    Havia tentado por diversas vezes, de diversas formas, no entanto, a resultante sempre era a mesma: nada; não conseguia encontrar maneira de se mover ou falar algo coerente quando estava em sua presença, até que desistiu, mas não sem antes derramar muitas lágrimas pelo sentimento infeliz que insistia em queimar em seu peito, que se negava em deixá-lo em paz e que, no entanto, era incapaz de colocá-lo em ação.

    Sentia-se preso, sufocado pelo sentimento que ao mesmo tempo que o fazia querer berrar a plenos pulmões, não o permitia nem mesmo realizar seus processos mais mecânicos e naturais. Sentiu como se  andando sobre o gelo sem os aparatos adequados, uma experiência que prometia prazer e, no entanto, houvera se mostrado totalmente frustrante; quanto maior era seu desejo por avançar, menor era seu progresso, não importava o quanto tentasse, seus pés não eram páreos para aquela superfície fria e polida, que em sua percepção se assemelhava ao coração de sua amada.

    Como se não bastassem estes sentimentos, após algum tempo, começou ter a sensação de ser observado. Nas vezes em que se virava, flagrava um par de olhos femininos a fitá-lo de forma intensa, e então rapidamente desviava o olhar.

    Refletindo a respeito do que se passava, quis saber o que ocorria para que aquela pessoa o encarasse tão frequentemente, chegou até mesmo a cogitar a possibilidade de se tratar de uma deficiente visual, mas por fim, decidiu por indagar a garota acerca desta situação. 

    Algum tempo se passou, e com eles a mágoa da não realização se amenizou no coração do jovem rapaz, que andando na estação de metrô acabou por encontrar sua observadora.

    Ao avistá-lo, a garota sentiu um ímpeto que a pôs em uma rápida corrida contra o tempo e a distância, não se importando se estava em um local abarrotado de pessoas ou se sequer havia trocado uma palavra com o amado. A canção que fazia seu sangue pulsar, ritmada pelo coração, se elevava de forma significativa o que não a deixava permanecer parada, sob o efeito da inércia.

    Andou a passos rápidos, nervosos e, em certo aspecto, desesperados pelo que poderia vir a acontecer a seguir. Na verdade, não sabia ao certo o que faria quando o alcançasse, apenas agia movida pelo calor do momento, calor este qual se dignou a manifestar em sua face e a se intensificar a cada passo que dava.

    Um. Dois. Três. Eram esses os passos que a separava agora de seu Eduardo, o qual se encontrava parado alheio ao que acontecia ao seu redor.

    Uma sequência de três nunca lhe parecera tão difícil ou complicada, ali estacada a cerca de três metros de seu príncipe nem tão encantado, sentiu uma insegurança que jamais houvera sentido, não conseguia obrigar seu corpo a obedecer e, em sua mente, um turbilhão de pensamentos de derrota lhe atormentavam.

    A primeira coisa que se manifestou em seu subconsciente para lhe afrontar foi sua aparência física, Mônica se considerava alguém bela, não de feições exóticas, porém aprendera a apreciar seus atributos e aceitar suas imperfeições, sempre que se contemplava no espelho, sentia-se satisfeita com o que via. Por isso, ponderou qual seria o fundamento de se impedir por algo tão tolo como esta insegurança e, por fim, concluiu que não fazia sentido algum.

    Ainda não vencida, alguma parte um tanto quanto neurótica de si, que não houvera se manifestado até o momento, se pôs a levantar questões que vieram a anuviar a mente da garota: Eduardo estaria interessado em lhe oferecer uma chance? Teria ele alguma outra paixão? O que ele pensaria dela? A acharia estranha? Consideraria ela uma louca obcecada? Fugiria dela? Iria ignorá-la?.

    Estes pensamentos a entristeceram profundamente, não só pela possibilidade de estas afirmações serem verdadeiras, mas também por elas sequer existirem. Afinal, as pessoas deveriam serem livres para tentarem se relacionar uma com as outras livremente, sem amarras, sem padrões, sem medo. No entanto, sentir na pele a constatação de que por mais que não estejamos atrelados a nenhum outro relacionamento, que não haja nenhum impedimento por parte de pessoas externas, ainda estamos engaiolados pelo nosso medo e insegurança. Engaiolados pela própria consciência e muitas da vezes não nos dávamos conta.

    Pensou na gaiola e logo se viu transformada num pássaro, assim como na cena final de “Cisne Negro”, e lembrou-se do poema que sua avó costumava recitar: “Amar dá asas
ao mesmo tempo que te prende ao chão;/ Voar é liberdade/ mesmo que esta seja uma ilusão;”.

    Neste momento, desejou intensamente se transformar no paradoxo que era amar e na exceção que era voar: e então o fez.

    Deu o primeiro passo e o coração se acelerou, rapidamente antes que a coragem se esvaísse, deu o segundo e o terceiro.

    E lá estava o momento, era chegada a hora: tocou os ombros do rapaz, que se virou de forma surpresa, nem imaginando o que estava por vir.

    Mônica lançou-se sobre Eduardo que devido ao choque dos corpos, perdeu o equilíbrio e os levou ao chão. Ainda na emoção do momento, sem pestanejar, a garota iniciou uma aproximação lenta, torturante, que acabou por selar os lábios em um singelo beijo coberto de nervosismo e incerteza.

    No mesmo instante, sentiu que o calor que se estabelecera em seu corpo ser dissipado assim que a respiração de Eduardo mesclou-se com a sua. Seu corpo rígido e tenso relaxou e pôde sentir o cheiro que emanava de seu amado: um perfume amadeirado, exatamente igual ao que seu pai costumava usar.

    Ao ser embalada pelos braços de porte médio de seu eleito, sentiu uma sensação de leveza se apossar de seu coração. E não conseguiu conter o tremor que a atravessou ao se dar conta de que havia conseguido dar um grande passo para dentro de si, em direção ao seu coração.

    Nestes instantes, todos aqueles que passavam, paravam para testemunhar a cena do casal que se beijava no metrô, em meio a multidão.

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