A caçada

 No princípio estávamos todos dormentes, alheios, imersos em qualquer outra coisa diferente de sua existência. Até que você passou por nós e nos despertou, em momentos distintos. Se apresentando de formas diferentes a cada um, rapidamente o denominamos segundo a nossas percepções individuais. Alguns te chamaram de dinheiro, influência, poder, reconhecimento, força, outros de amor, felicidade, aceitação, contentamento. Mas todos esses são apenas sinônimos para seu verdadeiro nome: sucesso.

 Após nosso despertar, partimos em disparada em sua direção, motivados pelo instinto primitivo inerente a todo animal. Avançando ensandecidamente logo percebemos que não estávamos sozinhos na caçada e, por equívoco de interpretação, imediatamente consideramos a companhia competição, usando a vontade de se sobrepor como combustível na caçada. 

 Isso continuou, por algum tempo. Mas em algum instante, nosso corpo se cansou e a cada passo que dávamos, você dava dois. Quando parecia que o alcançaríamos você se afastava, incessantemente.

 Então chegou o momento em que talvez estivéssemos próximos de desistir, quando alguém tocou em nosso ombro e nos puxou para uma moita. De imediato nos assustamos e, eventualmente tentamos resistir. Porém, em um curto período de tempo este alguém que nos arrastou se mostrou um ensinador, um amigo, um companheiro e a concorrência aos poucos se transformou em irmandade. Ele nos instruiu acerca do papel do silêncio na perseguição, nos mostrou que valentia é necessária e selvageria útil, em certas situações, mas ambas são muito escandalosas e, em alguns momentos, quem é sorrateiro sai na vantagem.

 Ainda na moita, houve mais uma pessoa que surgiu e nos mostrou que o galho caído ao chão do nosso lado poderia ser transformado em uma arma. E que mais do que instinto, a inteligência era uma arma na caçada.

 Logo em seguida, outro indivíduo apresentou-se e nos ensinou a disparar a arma. Nos disse que a habilidade nem sempre era inata, contudo com doses certas de esforço, não havia alvo impossível.

 E por fim, dentre outras tantas identidades, emergiu uma que nos disse que chegaria a hora de sair da moita, e tentou nos preparar para tal momento.

A moita fora boa, um lugar de aprendizados, trocas, relações e até mesmo afetos. Mas ela projetava uma sombra, e não se pode viver para sempre sob essa sombra. Não se pode fazer disparos, efetivos quando a cobertura que te protege também te impede de ver precisamente o que está afora. 

 Em fato, muitos saíram da moita mais sábios, mais fortalecidos, mais habilidosos, mais preparados para prosseguir na perseguição. Já outros se acovardaram: estar na moita era mais fácil e seguro. Desde então, permanecem lá, esperando o dia em que se cansarão de não serem vistos, ou apenas imersos em uma eterna apatia e ausência desejo em prosseguir.

Todavia, virá um tempo, em que todos sairão da moita, seja por ajuda de outros, seja por desejo próprio. E saiba que todos vamos te alcançar. Pode correr, se esquivar, mas a certeza permanece: ainda virá a ocasião em que todos o teremos atingido. Sucesso, todos nós o conquistaremos, por suor, por treino, por coragem.

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