Esse ódio não é meu, toda essa dor não é minha. Carregar no coração esse peso e na garganta essa trava, acrescenta mais machucados nessa vida já tão árdua. Minha voz são as palavras, minha eterna fonte de poder. Palavras de amor, palavras de cor, palavras que... Ai meu Deus! Desatam qualquer nó. As palavras me libertam e ao passar o lápis sobre o papel já deixei ir aquilo que não me pertence.
O que é o sucesso senão o mágico remédio, prescrito pela suposição, para curar todas as nossas dores? A medalha na parede, o metal no anelar da mão esquerda, passos de criança sobre o piso ou até mesmo o chacoalhar do molho de chaves. Quando listamos assim parece que o sucesso tem cadência, uma ordem certa e predeterminada para acontecer. Inquieto-me. O engessado sufoca. Se pudesse, usaria o martelo da incerteza para desfazer qualquer peripécia a intentar solidificar o futuro. Tudo, sob os pés da percepção, transforma-se quando trocamos de assento na mesa do banquete da vida. Pela feliz surpresa da mutabilidade de tudo, deparo-me com o novo conforme o mundo passa pela janela do ônibus. No borrão das árvores que balancam com o vento eu me lembro dos versos de Pessoa. Meus dedos apenas mais lentos que a ideia, caçam letra a letra pelo teclado, como uma artesã que tece os anos em cada fio e ponto. Teço os segundos do trajeto, teço as ideias de um estranho em um outro temp...
Lembro que na quando criança, o maior sonho da maioria das garotas que eu conhecia era o de ser uma princesa da Disney. Acho que na infância castelos gigantes, jardins coloridos, vestidos brilhantes, cabelos perfeitos, rostos bonitos e bichos fofinhos são a representação de uma vida perfeita. Conforme a gente vai crescendo, as coisas mudam: cantorias excessivas passam a ser irritantes, transformações mágicas viram cômicas, o cenário parece meio sem nexo e a beleza de um personagem computadorizado não é mais aquelas coisas. O desfecho é inevitável: passamos a renegar essa parte fantasiosa de nossa existência e abandonamos esse tipo de ficção. Seguimos assim, nos escondendo por detrás desta máscara de maturidade até que chega um momento em que precisamos (re)significar. Em que estamos tão cansados dos golpes duros da realidade que buscamos refúgio na doçura da infância, e então...
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