Mulher, Homem, Coletivo

Ela


Sou mulher, 

Me disseram que isso significa casar.

Sou mulher,

Me disseram que isso significa gerar.

Sou mulher,

Me disseram que isso significa lavar.

Sou mulher,

Me disseram que isso significa passar. 

Sou mulher,

Me disseram que isso significa limpar.

Sou mulher,

Me disseram que isso significa calar.

Sou mulher,

Me disseram que isso significa esconder.

Sou mulher,

Me disseram que isso significa consentir. 

Afinal, por que algo que é sinônimo de casar, gerar, lavar, passar e limpar deveria ter o direito de se exprimir? 


Tantas respostas, uma simples afirmação. 

Tantos significados, mas nenhum adequado.

E de tantos sentidos qual é aquele adotado?

Se aquele que amo é o mesmo que disse, terá o ‘nós’ acabado? 


Pessoalmente agora vejo:

Sou mulher,

E isso significa que meu estado civil não importa.

Sou mulher,

E isso significa mais do que apenas um corpo concebido para gerar vida,

Sou mulher, 

E isso significa que me visto como quiser.

Sou mulher, 

E isso significa que não sou um verbo, sou um sujeito.

Sou mulher, 

E isso significa que devo dizer o que significa ser mulher de verdade.

Sou mulher, 

E isso significa que devo (re)significar.





Ele


Eu sou homem

Me disseram, para nunca ceder;

Que eu sou o carrasco a quem deve ela obedecer.

Me ensinaram no método da força bruta,

seja por bem, seja por mal, minha vontade é a que perdura.

Me instruíram, sobre o direito à propriedade, 

manda quem pode, obedece quem não tem vontade. 


Na relação entre homem e mulher, 

Diante dos olhos divinos e das tradições que nos formaram,

sou a cabeça da casa, mesmo que eu tenha nascido para ser o coração.

Amigos de festas, colegas das noitadas, são os capatazes da minha empreitada.

Se tendo a amolecer, se tardo a perceber a rebeldia, 

nada que duas cervejas, uma discussão vazia 

e retorna a tirania.


Foi só quando vi

a mulher que amava 

com olhos de amargurada.

quando meu toque se tornou um pesadelo,

quando não mais fui capaz de retê-la, 

que meus próprios tremores me atravessaram.

E só então lembrei

Que as mesmas mãos que ferem são capazes de curar;

Que sempre temos dois caminhos;

Que decisões não são perpétuas, jamais definitivas,

(apesar de nunca podermos pegar de volta o que dissemos,

desfazer o que fizemos).

Percebi que machucar é uma escolha

e que sempre podemos nos (re)significar,

por nós e por todos a quem possa interessar.



Nós


Somos humanos,
não há destino,
apenas diversos caminhos.

Somos humanos,
essa é a nossa vida,
decidimos como agimos.

Somos humanos,
as decisões que tomamos são coletivas.
Somos humanos,
é tempo de ouvir e darmos as mãos uns aos outros

Somos humanos,
juntos devemos dizer o que significa sermos humanos de verdade.




- Esses versos foram originalmente produzidos para serem performados durante uma apresentação artística em 2020 realizada pela grande nação 3º ano A (Colégio Uirapuru)



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